A Souza Paiol, maior fabricante de cigarros de palha do País, mantinha 116 trabalhadores em condições análogas à escravidão. Segundo matéria da Repórter Brasil, os trabalhadores eram escravizados na colheita da palha usada na produção dos cigarros. Eles passavam fome, trabalhavam em circunstâncias precárias e inseguras, além de dormirem em péssimos alojamentos.
De acordo com a reportagem feita pela ONG Repórter Brasil, que é uma das mais importantes fontes de informação sobre trabalho escravo no país, o resgate feito na fazenda localizada em Água Fria de Goiás (GO) foi a maior deste ano, quando considerado o número de pessoas envolvidas.
Souza Paiol mantinha 116 trabalhadores escravizados
Entre os trabalhadores resgatados após a fiscalização trabalhista, estavam cinco adolescentes, o mais novo com apenas 13 anos. O auditor-fiscal do trabalho, Marcelo Campos, coordenador da operação feita pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM) relatou que o grupo “não tinha nenhum direito trabalhista, dormiam em alojamentos péssimos e não recebiam equipamentos de proteção individual (EPI).”
Além do relato de Campos, o grupo contou que passava fome, porque “iniciavam o trabalho às 5h e a primeira marmita chegava apenas às 11h.” O auditor explicou que se alguém ficasse doente e não conseguisse trabalhar, era descontado R$ 15 da marmita.
Itens básicos de higiene, como papel higiênico e sabão não eram repassados aos trabalhadores, que também dividiam a mesma garrafa de água, em plena pandemia de covid-19. Aliás, nenhuma precaução era tomada nesse sentido – muitos nem mesmo haviam sido vacinados contra a doença.

A reportagem também apurou que os trabalhadores tinham que pagar pelos equipamentos usados na colheita, como facas, pedras de amolar e fitas de proteção para os dedos, procedimento que vai contra a norma que rege o trabalho no campo (NR-31), que determina ser de responsabilidade do empregador disponibilizar gratuitamente as ferramentas de trabalho aos funcionários.
Souza Paiol pagou R$ 900 mil em indenizações aos trabalhadores
O resgate começou há 15 dias, em 13 de outubro, e foi encerrada nesta quarta-feira (20), quando os 116 trabalhadores receberam as indenizações, pagas pela Souza Paiol, que somadas chegam a R$ 900 mil.
Procurado, o dono da Souza Paiol, José Haroldo de Vasconcelos, que já foi acusado de sonegação fiscal e de não ter pago cerca de R$ 20 milhões em tributos, disse à Repórter Brasil que os trabalhadores resgatados não trabalhavam para ele e que são terceirizados. Disse também que não está pagando as indenizações aos trabalhadores, mas apenas emprestou o dinheiro para que seus fornecedores pudessem fazer os pagamentos aos resgatados.
No entanto, um depósito de R$ 600 mil realizado por Vasconcelos para os encarregados das contratações o identificou como responsável pelos trabalhadores. Quando questionado sobre a finalidade desse dinheiro, o dono da Souza Paiol disse que se tratava de um adiantamento para pagar a palha do milho. O Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Defensoria Pública da União (DPU), não concordam e vão propor um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Souza Paiol.