A produtora e tradutora Beatriz Coelho foi detida e algemada pelos pés na 2ª Delegacia Regional de Jaburuna neste sábado (29), por fazer topless na Praia de Itapoã, em Vila Velha (ES).
Ela relatou em entrevista ao jornal O Globo que ficou na praia com um amiga, sem blusa, por cerca de aproximadamente 3 horas quando “chegaram dois homens (policiais) sem portar máscara corretamente, alegando que receberam denúncias de moradores da região”.
“Os policiais chegaram após as 17h, quando as pessoas estavam indo embora. Solicitamos uma mulher e com ela chegaram mais uns três policiais e duas viaturas. Fomos levadas para a delegacia pelos dois homens que nos abordaram. Antes de entrar no carro perguntei à policial se ela iria com a gente e ela disse que sim, em outro carro, porém isso não aconteceu lidamos o tempo inteiro com homens completamente despreparados”, relatou ela.

Beatriz e a amiga passaram mais de duas horas na delegacia. Lá, ela foi algemada pelos pés, apesar de não ter resistido à prisão.
“Afirmaram que era um procedimento padrão (ferindo a súmula vinculante 11 e cometendo um ato ilícito); e que todas as pessoas aguardando naquela sala usam algema. Questionamos pelo fato de não estarmos resistindo e não apresentarmos nenhum risco, ele se irritou e disse que já estava sendo legal com a gente porque só estava algemando os pés e não as mãos e os pés, como deveria fazer”, contou ela.
A prática do topless, de tomar sol sem a parte de cima do biquíni, com os seios à mostra, não é crime no Brasil. Mas a depender da interpretação, o ato pode ser considerado ato obseno, tipificado no artigo 233 do Código Penal – o artigo não define especificamente o que é “ato obseno”, deixando a interpretação de cada caso à cargo do agente público.
No Instagram, a produtora postou uma foto de topless com uma tarja cobrindo os seios, onde escreveu “O que pode acontecer com uma mulher que faz topless no Brasil?”.
“O mais irônico é que ao meu lado na delegacia tinha um homem aguardando sem camisa. Nem dentro de uma delegacia um homem precisa estar vestido”, afirmou ela.
Beatriz relatou também que um policial da delegacia não se identificou, retirou o celular de sua mão e entregou a uma amiga que a esperava do lado de fora do local.
“O policial começou a gritar diversas ofensas à amiga que estava nos defendendo”, relatou ela, apontando que os agentes também dificultaram acesso à cópia de seu termo de liberação.
“Poucos minutos depois nos liberaram sem qualquer registro ou orientação. Nos deram um termo de liberação para assinar. Solicitamos uma cópia e nos foi dito que não iriam dar cópia. Eu pedi para tirar uma foto do termo. A mesma amiga que estava do lado de fora entrou para fotografar e o policial arrancou o papel da mão dela dizendo que ‘se encher o saco não vai fotografar porra nenhuma’, amassando o termo. Eu precisei pedir a ele com muita calma para que me deixasse tirar a foto, já que o termo era o único registro oficial da nossa ida à delegacia”, contou.
Por fim, a produtora conclui que o caso envolve preconceito e discriminação.
“O que passamos ontem não foi motivado apenas por machismo, mas também por homofobia, misoginia e gordofobia, visto que as duas pessoas sem blusa eram corpos lgbtqia+ e a pessoa que estava comigo era um corpo gordo”, afirmou.