A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, omitiu em publicação no Twitter nesta quinta-feira (20) que a parada cardíaca sofrida por uma menina em Lençóis Paulista (SP) não tem relação com a dose infantil da vacina da Pfizer que ela havia tomado naquele mesmo dia. Em reação, internautas denunciaram o tuíte da ministra como desinformação e a acusaram de fazer campanha política antivacina com a situação da garota.
Na publicação, Damares anunciou que viajou ao interior de SP com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para encontrar com a família da menina.
“Acabo de desembarcar na Base Área. Estive hoje à tarde em Botucatu/SP com o Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em visita à família e à menina de Lençóis Paulista, hospitalizada após suspeita de parada cardíaca no mesmo dia em que recebeu a vacina contra Covid”, afirmou a ministra. “Fomos recebidos pelo prefeito e o Secretário de Saúde de Botucatu e médicos da cidade. Tivemos um encontro com a família e estivemos com a menina. Encontramos pais amorosos, além de uma menina bela, comunicativa, inteligente e com um sorriso que faz a gente se apaixonar”.
A ministra relatou também que o presidente Jair Bolsonaro conversou com a família da criança por telefone.
Cerca de oito horas antes da publicação da ministra, no entanto, o Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde concluiu a investigação “que descartou o evento adverso pós-vacinação na criança de 10 anos do município de Lençóis Paulista”.
“Não existe relação causal entre a vacinação e quadro clínico apresentado”, ressalta o relatório da investigação.
Em nota, o governo de São Paulo informou que “a análise realizada por mais de 10 especialistas apontou que a criança possuía uma doença congênita rara, desconhecida até então pela família, que desencadeou o quadro clínico”.
A ministra Damares omitiu estes fatos e foi rebatida por internautas e influenciadores.
“Ministra: quantas famílias que perderam seus entes queridos para a COVID a senhora visitou? A senhora teve pelo menos 622 mil oportunidades. Atenciosamente”, escreveu na publicação o professor Titular de Literatura Comparada da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), João Cezar de Castro Rocha.
Internautas também desmentiram a ministra e pediram que mais pessoas denunciassem a publicação para o Twitter.
“Pessoal, peço ajuda aqui. Entrem no perfil da Damares e denunciem essa campanha rasteira e cruel contra a vacinação de crianças (o caso em questão não tem qualquer relação com a vacina). Entra, clica nos três pontinhos do canto superior direito e segue os passos”, afirmou o jornalista Lucas Berti.
Houve ainda quem lembrasse do histórico da Damares, como fez o editor-executivo do The Intercepr Brasil, Leandro Demori.
“Os dois grandes feitos da Damares Alves no governo Bolsonaro: agir pra impedir o aborto de uma menina de 10 que engravidou de um estuprador; visitar uma criança com doença congênita que a ministra fingiu ser uma vítima da vacina. Se o inferno existe, já sabe”, afirmou Demori.
A jornalista Micann, a sua vez, questionou por que Damares não visitou crianças vítimas da covid no Brasil.
“Que pena que não visitou o Gael, que morreu de covid aos 8 anos sem ter chance de se vacinar porque a gestão da qual a senhora e o Ministro Queiroga participam atrasou a vacinação de crianças (e continua espalhando mentiras sobre a vacina)”, afirmou ela.
Os dois grandes feitos da @DamaresAlves no governo Bolsonaro: agir pra impedir o aborto de uma menina de 10 que engravidou de um estuprador; visitar uma criança com doença congênita que a ministra fingiu ser uma vítima da vacina. Se o inferno existe, já sabe.
— Leandro Demori (@demori) January 21, 2022
Que pena que não visitou o Gael, que morreu de covid aos 8 anos sem ter chance de se vacinar porque a gestão da qual a senhora e o Ministro Queiroga participam atrasou a vacinação de crianças (e continua espalhando mentiras sobre a vacina)https://t.co/scebEvkPUA
— mikannn (@mikannn) January 21, 2022